terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Discurso de racismo no zoológico, por Catarina

Não era a minha intenção trazer para esse espaço discussões relacionadas a acontecimentos televisivos de programas que estamos cansados de acompanhar, mesmo sem muitas intenções, já que eles invadem a nossa vida mesmo que a televisão esteja desligada e a parabólica não paga (como a minha). Pois é, não adianta, eles te pegam. Como pegaram ontem – a mim e a qualquer pessoa que tenha entrado na internet. Nada necessariamente contra os reality shows. Só não tenho uma onda com isso mesmo. Já até assisti muitas vezes, comentei, enfim… mas, acho muito parecido como a ideia de zoológico: coloca-se um monte de animais dentro de uma jaula, trancados, para serem observados por quem se interessa em assistir, comentar, rir, achar bonitinho – não é igualzinho? Mudando o fato de não precisarmos nos deslocar. É só sentar no sofá, e ligar a televisão! Uma galera confinada em uma casa, monitorada 24 horas por dia, até nos momentos em que fazem suas necessidades fisiológicas.
Mas, não perdendo o foco, foi nesse processo de invasão que a minha curiosidade (como boa fofoqueira que sou), me levou a clicar em um vídeo onde assisti a uma cena de estupro. Sim estupro - relação sexual não consentida pela vítima. Chocada em pensar que aquilo aconteceu em um lugar monitorado 24 horas por dia, chocada em perceber que aquilo estava sendo banalizado pelos produtores do programa, chocada em relação aos comentários que colocavam a moça como participante (já que ela deu mole, e deu até um beijo no cara) … Mas o que também me chocou foi perceber o discurso de racismo que começou a aparecer em cima da história. E é sobre isso e a partir disso que estou escrevendo.
 O cara, protagonista da história, negro, aliais único “representante” negro no programa, começa a se vitimizar, colocando as acusações como sinal de perseguição por ser negro. A galera adere ao discurso e defende o cara como injustiçado – porque o negro sempre é injustiçado, tadinho – e eu, Catarina Negra da Silva, penso em quantas vezes me deparei com o discurso de negros, que atribuem todo e qualquer fracasso e problemas na vida ao fato de negros. Já sofri racismo, já fui discriminada, claro, o preconceito está ai, e não é possível que haja quem não acredita que exista. Acredito que todo negro já sofreu racismo. Os episódios são inúmeros e acontecem todos os dias: ser convidado a usar elevador de serviço, ser barrado em algum lugar, levantar suspeita da polícia ou de algum segurança de loja, ser direccionada ao cabide das promoções toda vez que entra em uma loja no shopping. As frases “negro, quando não faz besteira na entrada, faz na saída”; “Só podia ser o preto!”; estão sendo reproduzidas mais uma vez por conta da atitude do tal “representante negro do programa”, já que a ideia do programa é ter um negro para representar. Representante? Escolhido por quem? Escolhido com que critérios? Ele é só mais um elemento da sociedade. E como tal, ele pode ser como bem entender e ser difamado por isso, mas não deve ter encargo nenhum perante outros negros.
Tudo isso é claro que faz parte de uma cultura que prega que a beleza é clara, que a transgressão é negra, que a bondade é clara e tudo que é mau é negro. Ser negro ou branco diz somente respeito a cor de pele, não ao carácter de cada um! Mas esconder um suposto crime por trás de um discurso de discriminação não faz o menor sentido. É necessário que se defenda do racismo, mas não com dissimulação e pontapés porque isso não vai livrar ninguém de sofrer racismo. Ao invés disso, deveríamos fortalecer respeito e auto-estima. Fica a dica!

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