segunda-feira, 28 de maio de 2012

Por que se é amigo de alguém ? [1]

Há um grande mistério no fato de se ter algo a dizer a alguém, de se entender mesmo sem comunhão de ideias, sem que se precise estar sempre voltando ao assunto.

Tenho uma hipótese: cada um de nós está apto a entender um determinado tipo de charme. Ninguém consegue entender todos os tipos ao mesmo tempo. Há uma percepção do charme.

Um gesto, um pudor de alguém são fontes de charme que têm tanto a ver com a vida, que vão até as raízes vitais... que assim ...se vira amigo de alguém.

Há frases insignificantes que mostram tanta delicadeza e têm tanto charme que, imediatamente, você acha que aquela pessoa é sua.
Não no sentido de propriedade, mas é sua e você espera ser dela.
Neste momento nasce a amizade.

Alguém emite signos e a gente os recebe ou não. Acho que todas as amizades têm esta base: ser sensível aos signos emitidos por alguém. A partir daí, pode-se passar horas com alguém sem dizer uma palavra ou, de preferência, dizendo coisas totalmente insignificantes.

Em geral, dizendo coisas... A amizade é cômica.

As pessoas só têm charme em sua loucura.
Eis o que é difícil de ser entendido.
O verdadeiro charme das pessoas é aquele em que elas perdem as estribeiras, é quando elas não sabem muito bem em que ponto estão.
Não que elas desmoronem, pois são pessoas que não desmoronam.
Mas, se não captar aquela pequena raiz, o pequeno grão de loucura da pessoa...  não se pode amá-la.
Aquele lado em que a pessoa está completamente...
Aliás, todos nós somos um pouco dementes.
Se não se captar o ponto de demência de alguém...
pode assustar, mas, quanto a mim, fico feliz de constatar que o ponto de demência de alguém é a fonte de seu charme.

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[1] DELEUZE, G. O Abecedário Deleuze. Entrevista com Claire Parnet. Vídeo.

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